2022/2023
1º e 2º temporadas.
fui assistir “The Bear”, em português “O Urso”, muito depois do hype da série ter iniciado, em geral não sou muito de acompanhar hypes, com raras exceções.
entretanto, quando se fala desta série criada por Christopher Storer, toda a animação, elogios e popularidade estão corretas.
a série tem como personagem central Carmen "Carmy" Berzatto (Jeremy Allen White), um chef de cozinha premiadíssimo, que até pouco tempo trabalhava no melhor restaurante do mundo e por consequência, é o profissional mais promissor de sua geração, daqueles considerados geniais mesmo. Mas, uma situação grave na família, o obriga a retornar as suas raízes e assumir o restaurante da família, o “The Beef” em Chicago.
se eu pudesse resumir a série em algumas palavras eu diria que é o resultado da mistura de pessoas tentando cozinhar e conviver em modo enlouquecidamente caótico, aviso que isso causa um grande impacto a quem assiste. Aliás, se você como eu sofre de ansiedade, é bem possível que tenha que dar umas paradas nos episódios. Nunca tinha visto antes, ansiedade jorrando pela tela como nessa série. Tem que respirar fundo as vezes.
Outros personagens essenciais na trama são :
Sydney Adamu, interpretada pela incrível Ayo Edeberi, é sous chef de Carmy, talentosa e se junta ao The Beef como uma forma de trabalhar próximo a Carmy.
Richard 'Richie' Jerimovich, interpretado pelo talentosissimo Ebon Moss-Bachrach, melhor amigo de Michael, irmão de Carmy e gerente do restaurante.
Lionel Boyce, interpretado por Marcus Brooks, o padeiro do The Beef que virou chef confeiteiro, estimulado pela orientação de Carmy.
Liza Colón-Zayas como Tina Marrero, uma cozinheira ácida e teimosa que abraça a oportunidade de treinar profissionalmente.
Abby Elliott como Natalie "Sugar" Berzatto, irmã de Carmy e Michael, a relutante co-proprietária do The Beef.
além de outros personagens mais periféricos que dão uma dinâmica mais engraçada, como os irmãos Fak por exemplo.
para começar quero dizer que ambas as temporadas são de fato fenomenais, há muito tempo não assistia uma série que todos (sim TODOS) os episódios são bons, não há barriga na série, ela não é curta ou longa demais, nada, não tenho um defeito a salientar. As atuações são incríveis, todos os atores parecem estar de fato, sintonizados com aquele mundo caótico e ansioso, mais do que isso, um mundo quebrado, de alguma forma distorcido, mas com momentos de entendimento, apoio e amor.
um amor distorcido ou um amor possível, diante de uma família assolada pelo alcoolismo da mãe dos Berzatto.
a primeira temporada trata basicamente sobre essas relações dentro do restaurante, em como cada um deles está ou não lidando com o luto e com as mudanças que a perda de uma pessoa acarreta, não só na falta da existência física, mas na dinâmica diária. Quando alguém morre perto de você, a dinâmica de vida muda. É impressionante sentir esse impacto, não há mais os horários que aquela pessoa gostava de fazer tal e tal coisa, não há mais as manias a conviver, as rotinas … e todos sabemos como uma mínima mudança de rotina interfere bruscamente no nosso psiquismo, além obviamente do “desaparecimento” dessa pessoa.
e nessa dinâmica, todos no restaurante tentam lidar com o luto, basicamente de modo caótico e neurótico.
Carmy além disso, tem que administrar um restaurante falido, funcionários que o rejeitam e ele próprio que parece se obrigar a estar ali. Como a culpa o envolve de modo avassalador, ele luta contra tudo isso, fazendo com o que a meta de arrumar aquele restaurante se torne uma obsessão e uma pressão absurda para manter o irmão vivo através daquelas paredes.
por falar em Carmy, seus hábitos autodestrutivos, como o vício em trabalho e a dificuldade em se conectar com as pessoas, são reflexos de um passado abusivo. E nisso também inclui a obsessão com o The Beef. Apesar do irmão estar morto, Carmy tenta provar a Mikey, o irmão morto, que ele é bom o suficiente.
Em algum momento Carmy diz “Esse restaurante é tudo o que temos". Na realidade, tudo que lhe sobra de Mikey.
“Acho que me sinto meio encurralado o tempo todo, porque não sei descrever como me sinto.”
Carmy, 1ª temporada, episódio 6.
e é interessante ver como ao longo da série, Carmy toma decisões baseadas em concepções externas, de pessoas que ele acha que esperam ou querem algo dele, em algum suposto papel que ele deveria cumprir, ou em arrumar algo que na verdade não é responsabilidade dele. Além disso, a sua completa inabilidade em lidar com o amor que passa a sentir e receber, quando encontra uma velha amiga da escola, Claire (Molly Gordon).
tudo é coroado com o episódio de Natal na 2º temporada, um episódio brilhante, desesperador, angustiante, frenético, ansioso … é um espetáculo dolorido. É muito fácil se conectar ao perfil de Carmy, que tenta consertar um familiar quebrado e manejar a loucura que assombra a família, numa tentativa desesperadora de controlar o incontrolável, de tentar ajudar uma irmã que está envolta em agradar uma mãe fora de controle, de ter um ataque de pânico somente na expectativa de um surto dela ou de controlar o mundo ao redor para agradar uma única pessoa e tentar mante-la domada, o que é impossível.
“Eu tenho que lembrar de respirar às vezes. Eu tenho que lembrar de estar presente, sabe? De me lembrar que o céu não tá caindo. Que não, não tem problema. O que é incrivelmente difícil, porque sempre tem outro problema.”
Carmy, 2ª temporada, episódio 3.
eu confesso que fiquei obcecada, assim que comecei a ver, talvez por me identificar em certas partes, talvez pela imposição do ritmo frenético da série, pela qualidade excelente dos episódios, enfim várias podem ser as razões, mas como disse há muito tempo uma série não me parecia ser tão boa.
enquanto escrevo este texto, estou vendo a 3º temporada, que ficará para um outro post, mesmo porque até agora, essa última temporada já tem uma avaliação um pouco diferente das duas primeiras. Mas isso fica para outro dia.
eu acho que não preciso dizer que mais do que recomendo esta série, na verdade eu te afirmo: assista, não há nada que possa ser dito contrário a isso.
mas, veja bem , eu fiz um panorama geral, com enfoque no personagem Carmy, mas há muito mais do que eu disse. Há um elenco complexo e incrível, Richie interpretado por Ebon Moss-Bachrach, tem uma jornada de transformação pessoal magnifica, há as participações especiais, uma atuação brilhante de Jamie Lee Curtis como a mamãe Berzatto, o episódio do Natal em que ela atua, com certeza é o melhor da série toda. Olivia Colman (como eu amo essa mulher atuando!) e Sarah Paulson também tem participações mais do que especiais. Isso que eu escrevi é só a superficialidade de um roteiro maravilhoso.
vai ver a série.
as duas temporadas estão disponíveis na Disney +.
a segunda temporada realmente tem episódios nível obra de arte, e espero que a série de fato acabe logo pra não estender desnecessariamente e acabar estragando algo que já é ótimo
eu que já não gosto de cozinhar levei pra mim que é um espaço pra deixar realmente pra quem gosta mesmo rs
mas nesse monte de produção desenfreada é bom saber que séries como the bear ainda são possíveis de existir